20 de maio de 2019 | Informes e Destaques
É com profunda tristeza que o INCT-FNA comunica o falecimento, no dia 16 de maio de 2019, de um de nossos mais ilustres e queridos companheiros, o Prof. Mahir Saleh Hussein.
Gostaríamos de compartilhar com todos a íntegra da Nota de Falecimento enviada à SBF para publicação, escrita por: Profa. Alinka Lépine-Szily, membro do comitê gestor do INCT-FNA, Prof. Antonio Fernando Ribeiro de Toledo Piza, professor sênior da USP, Prof. Carlos Bertulani da Univ. Texas A&M Commerce e membro do Conselho Científico Internacional do INCT-FNA, Prof. Raul Donangelo da UFRJ e da Universidad de la República, e Prof. Luiz Felipe Canto, professor emérito da UFRJ, ambos membros do INCT-FNA. Essa nota descreve brevemente a brilhante trajetória de nosso querido colega.
De nossa parte, fica a gratidão por tudo que o Prof. Hussein fez pela ciência brasileira e a saudade de um amigo querido. Em nome de toda a comunidade do INCT-FNA, também gostaríamos de expressar nossos sentimentos e condolências a todos os familiares e amigos pela terrível perda.
============== Nota de Comunicação para a SBF =================
Faleceu, na tarde de 16 de maio passado, Mahir Saleh Hussein, figura da maior relevância e crucial capacidade de liderança nas suas múltiplas áreas de atuação no campo da física.
O professor Hussein, nascido em Baghdad, onde também se graduou em Física no ano de 1965, concluiu seu programa de doutoramento no Massachusetts Institute of Technology, e aceitou, em 1971, convite do Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física da USP para se juntar ao seu corpo docente teórico. Esse foi, na realidade o seu primeiro contato com o país que se tornaria sua terceira e definitiva morada, e com a universidade a partir do qual construiu sua profícua carreira de professor e pesquisador tanto no âmbito nacional, tornando-se professor titular em 1987, como no internacional.
Mahir não se furtou a encargos administrativos, tendo sido Chefe do Departamento de Física Nuclear de 1996 a 1999 e em seguida Presidente da Comissão de Pesquisa do Instituto de Física de 1999 a 2003. Foi especialmente notável seu decisivo papel de liderança, em colaboração com grupo experimental do Laboratório Pelletron, ligado ao Departamento de Física Nuclear, na implementação modernizadora do chamado projeto RIBRAS, acrônimo para “Radioactive Ion Beams in Brasil”.
Em 1998 ele organizou um workshop no Departamento, convidando vários pesquisadores estrangeiros, experimentais e teóricos, para discutir o futuro do Laboratório Pelletron. A conclusão das discussões do workshop indicou como caminho mais promissor e competitivo para a produção de feixes radioativos leves e de baixa energia para estudos de sua estrutura e dinâmica. Juntamente com um grupo de físicos experimentais do Laboratório Pelletron foi elaborado um projeto apresentado a FAPESP, sob sua coordenação, para a compra de um sistema de dois solenoides supercondutores que permitem a separação, focalização e purificação de feixes radioativos, produzidos por reações nucleares de transferência. O projeto foi aprovado e com o dinheiro foi encomendada a construção do equipamento e seus periféricos. O sistema, denominado RIBRAS, inaugurado em 2004, foi a primeira facilidade a produzir feixes radioativos no hemisfério Sul e até hoje é único da América Latina. O professor Hussein foi o indutor da discussão e a liderança na realização do RIBRAS por ter levantado os recursos para a empreitada.
Em 2003 transferiu-se para o departamento de Física Matemática, onde já liderava, com apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, um grupo multidisciplinar envolvendo interesses em problemas de física e astrofísica nuclear, física de sistemas de muitos corpos tais como condensados de Bose-Einstein, métodos estatísticos no tratamento de sistemas complexos (caos quântico), aplicações a sistemas mesoscópicos, e questões de física aplicada. Tal atividade prosseguiu após sua aposentadoria em 2007, quando se tornou professor sênior no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Ali manteve uma tradição iniciada já em 1996, de organizar reuniões de trabalho com participação internacional sobre um ou mais dos temas envolvidos. Ali também ocorreu a última dessas reuniões, que foi conduzida por ele, de 15 a 18 de abril passado (o já tradicional “encontro da Semana Santa”, aproveitando o recesso acadêmico desse período), com o título “6th IEA International Workshop: Physics of Cold Atom Gases: Ordered and Chaotic Aspects”.
Sua grande especialidade, já a partir do seu doutorado no MIT, e até o final, foi a teoria de colisões. Sua atividade nesta área ficou plasmada o livro escrito em 2012, em colaboração com o Prof. Luiz Felipe Canto, “Scattering Theory of Molecules, Atoms and Nuclei”, publicado pela World Scientific.
Dentre outros prêmios e títulos que recebeu, ele foi Guggenheim Fellow em 1987-1988, Martin Gutzwiller Fellow no Max Planck Institute for Complex Systems – Dresden em 2007-2008. Desde 2006 foi Honorary Adjunct Professor na Michigan State University, EUA. Em 2014 foi nomeado Fellow da American Physical Society, EUA. Foi eleito membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo em 1990, da Academia Brasileira de Ciências em 1999 e da The World Academy of Sciences em 2005. Publicou mais de 320 artigos e colaborou com mais de 300 pesquisadores durante os últimos 40 anos, além de organizar inúmeros eventos científicos nacionais e internacionais.
Esses prêmios e títulos apenas pontuam uma vida de entusiasmo, disponibilidade para colaboração e atividade profícua, que se estendeu até poucos dias antes de seu falecimento, e que certamente fara imensa falta à universidade.
Ele é sobrevivido por sua esposa Carmen, uma professora de psicologia, e por sua filha Leila, uma arquiteta. Ele será lembrado pela família, amigos e colegas como uma pessoa calorosa e carinhosa. Sua intensa energia e o otimismo alimentou a vida de muitos de nós. Estamos felizes por ter sido seus amigos e colegas de trabalho ao longo de sua carreira. O Prof. Mahir Saleh Hussein fara muita falta.